Por Chico Terra
O livro é raso de conteúdo. Capítulos curtos que a todo momento destacam suas qualidades de empreendedor ousado, sortudo e obstinado pelo sucesso. Nas livraria penso que deveria estar na seção de auto-ajuda e não na de biografias. Eike não consegue se expor e acaba se posicionando ora como o “Tio Patinhas” dos negócios, ora como o esperto “Pica-Pau”.
Ao final do livro o leitor permanece com dúvidas sobre seu caráter como empreendedor, em que pese sua sólida educação paterna e materna. Eike é filho de Elieser Batista, um dos fundadores da Vale, que prefacia o livro deixando claro seu orgulho pelas realizações empresariais do filho, a quem atribui valores rígidos de caráter e generosidade. A mãe de Eike era alemã, Jutta Fuhrken, pessoa que oportunizou a Eike e seus seis irmãos uma educação exemplar. A todo momento Eike demonstra sua gratidão pela educação recebida de Elieser e Jutta.
Pesquisei a mineração no Amapá para elaborar minha tese de doutorado e tive que analisar as condutas dos empresários da mineração, de Augusto Antunes (ICOMI) a Eike Batista (Novo Astro, MPBA e MMX). No livro Eike destaca a boa performance produtiva de sua mina de ouro do Lourenço operada pela Mineração Novo Astro (MNA). Menciona ainda como “azeitou” a mina de ouro do Amapari, investindo U$18 milhões na implantação da Mineração Pedra Branca do Amapari (MPBA) e a vendeu em seguida a empresa canadense Goldcorp por U$160 milhões. No caso da mina de ferro da MMX, também implantada por Eike ao lado da mina de ouro do Amapari, fica claro que o empreendimento foi uma espécie de contrapeso da venda do Sistema Minas-Rio para a mineradora Anglo.
O que se pode perceber é que os empreendimentos de mineração de Eike no Amapá se aproximaram ou se afastaram da responsabilidade socioambiental em decorrência da gerencia local e das relações mantidas com o Governo. Os gerentes das minas de Eike no Amapá, no intuito de cumprir suas metas e por receio de serem substituídos tomaram decisões de construir relações pessoais com o Poder Político, fomentando ações de interesse individual em troca de facilidades operacionais diversas. Essa conduta fortalece a tese de que o Amapá continua se comportando politicamente como um latifúndio e não como um Estado.
No caso da Mineração Novo Astro, que operou numa região tipicamente garimpeira em um período que antecedeu a existência da política ambiental, a alta produtividade da mina permitiu que a empresa assumisse muitas atividades do Poder Público, o que de alguma forma, favoreceu a operação da mina em meio a uma tensão social controlada pelas bondades privadas e vigilância armada. Depois houve uma tentativa do Governo em transformar a Novo Astro num núcleo joalheiro operado pela Cooperativa de Garimpeiros do Lourenço. Não deu certo!
A exploração do ouro da região do Amapari pela MPBA teve investimentos de Eike em pesquisa, no licenciamento ambiental e na implantação da mina. Logo em seguida Eike vendeu a MPBA para a Goldcorp com alta taxa de lucratividade. A MPBA operou de 2004 a 2010 com relativo sucesso e organização interna. Aguarda-se uma nova fase do projeto, agora operado por outro grupo empresarial e possivelmente através de lavra subterrânea.
A implantação da mineradora de ferro MMX em 2008 carimbou negativamente a imagem de Eike. Com contrato antecipado de fornecimento de ferro, os jovens gerentes contratados por Eike para colocar o negócio para andar no Amapá, possivelmente motivados por promessas de bônus de cumprimento de metas, adotaram procedimentos que ferem todos os princípios de sustentabilidade. Em seguida o projeto foi vendido para a Anglo, deixando um passivo ético para o empresário e reforçando a incógnita do “X” da questão.
É possível que Eike volte a investir no Amapá e torço por isso. Mais experiente e com uma visão de 360 graus dos negócios, como ele destaca no livro, Eike poderá retornar para a Amazônia uma parte do que a região lhe deu em riqueza material. Ideias para investir em negócios sustentáveis no Amapá são muitas e penso que Eike está a procura de uma provocação inteligente.
Marco Antonio Chagas, doutor em desenvolvimento socioambiental pela UFPA/NAEA, professor do curso de ciências ambientais da UNIFAP.
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